Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Conver[Pen]sação

-E você mais uma vez interferindo nos meus pensamentos, mais uma vez agindo sobre mim, sem eu perceber ou fingindo que não. Lá vem você com esse papo de poesia, de conversa boa, as vezes barata.
-E lá vem você mentindo mais uma vez pra mim, como se eu também não tivesse medo de assumir que o que construímos já é necessário pra dizer que te gosto.
-Pois é... Calemos a boca! Tome jeito! Me tome! Eu me dou, me empresto a ti, se preciso for, mas fique aqui enquanto habitar no meu ego, me influenciando e mantendo esse fluxo, essa ponte que interliga você a mim.

Pen[Sen]sações II

Vejo vocês ressonando. Paro. Observo. Penso: não quero isso pra mim, morrerei aos cinquenta. Vejo-me. Paro. Observo-me. Penso: eu sou mais um de vocês, estou morto faz tempo, mas ainda não apodreci, por isso que nem eu e nem vocês perceberam isso.

Pretendo mudar, mas mesmo assim não deixarei o mau cheiro para trás, afinal sou gente. Pessoas fedem, na proporção em que vão criando conceitos, maturidade, opiniões, preconceitos, a não ser que respeitem o meu, o seu, o nosso e s p a ç o.
Caso feche os olhos para tudo isso, tenho medo da profunda solidão que posso ficar, pois posso manter-me calado, fechado, lacrado, solidado para sempre. É melhor estar junto ao podre, na lama, no podre, em podre, com podre, podre, porque sei que estarei vivo, me sentindo vivo, incluso neste espaço e mesmo no fétido mundo que habito é melhor existir do que querer desistir de existir, não quero solidão, nesse caso... Que venha o odor!