Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vácuo [2]

Cansei de andar, sou viajante de meus próprios sentimentos, mas queria compartilhar estes com alguém, andar sozinho ou cansa, dói ou ambas as coisas. Espero que eu aterrisse agora e pare de procurar as pessoas, quem sabe eu procurava em lugares errados: baldes de lixo, esgotos, poços ou no escuro. Tive uma leve sensação de que seria melhor ou diferente, mas as abreviações me perseguem, a dúvida, a curiosidade em saber do que se passa, continuam as mesmas, por isso acho que ficará na mesmice. Acho que acertaram em cheio o meu maior medo. Meu medo agora é que o medo se torne verdade. 
A caneca vai secando, as pernas já imobilizadas, de tanto correr em busca do nada, vão ficando cada vez mais inertes. Eu só queria dar uma de "Peter Pan", as coisas só complicam depois de uma certa idade. 
Eu só queria saber por que humanos precisam tanto desse monte de coisa misturada aqui dentro? Desse monte de baralho desordenado? De tanta saudade? De um tanto de tanto? Ah! Me explica aí!
A gente volta sorrindo, a gente agradece a tudo e por tudo, mas em segundos a ficha cai e percebemos que foram erros os agradecimentos, que nem sempre as coisas que pedimos vêm. E abastecimento de paciência, pra mim já deu.
Eu poderia sossegar, eu poderia muito bem está numa rede, eu poderia muito bem estar sorriso sem temer a nada e a ninguém, eu poderia tantas outras coisas, mas a que eu mais queria está longe dos meus olhos e numa distância não precisa.
"O que eu procuro ainda não tem nome". O que eu procuro não tem carne, quem dera tivesse ao menos coração e cérebro. Vagarei nesse longo túnel em busca de explicações, de ombros e abraços. Mesmo desacreditado e impaciente, espero que a ponta de esperança que ainda me resta, se transforme em alguém que eu possa ligar e chamar de amor, que ligue pra mim perguntando se estou bem e que me diga coisas como do tipo: "não vivo sem você". E o amor é brega, é breguice necessária e necessito de uma coisa assim pra pelo menos parar em temer a solidão. Até os amigos vão sumindo como cera de vela acesa, mas "na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", portanto, nenhum amigo se cria do nada, nunca os perderemos, mas se transformam ou em desconhecidos ou em pessoas quaisquer, mas nunca os perdemos pra sempre, sempre sobra algo dentro da gente. Eu queria sentir aquilo que as pessoas falam tanto, um dia eu tentei sentir, não foi nada bom, faltou reciprocidade.
Eu acho que preciso de um recarregador, que me abasteça de alguma coisa boa, seja ela qual for e me faça esquecer dessa coisa vaga que existe, um exorcista até que poderia me ajudar a, pelo menos, limpar a sujeira em qual me encontro.
Depois de quilômetros de pegadas feitas e milhões outras coisas, a esperança ficará armazenada, só esperando o dia em que eu disser: "Agora sim, satisfeito, amém!"

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